Guajará-Mirim, 24 de Junho de 2000

Ao povo brasileiro,

O Brado de um velho "Amazônida"

Estou usando a internet, para que seja divulgado a todo Brasil, as injustiças que sofremos, praticadas pelo poder Federal, em algumas partes de nossa querida Amazônia. Principalmente em nossa faixa de fronteira com a Bolívia.

Sou militar da reserva, e servi o Exército Brasileiro desde 1.944, época da Guerra, e que somente em fronteira foram 18 anos, amparado pela lei 2.116, que se não me engano, data de Novembro de 1.946, esta lei visava fixar o homem ao solo, para povoar a fronteira.

Mesmo assim, se quis uma área de terra para trabalhar, tive que comprar o direito de posse de um velho Seringalista, e posteriormente requeri do antigo IBRA, depois o atual INCRA, desde a década de 70, que apesar de ser vistoriada pelos fiscais, até o presente momento não me foi dado o título definitivo.

Na época abri várias colocações de Seringa abri varadouros, coloquei Castanhal em pique, construi uma Casa de madeira de lei medindo 20 x 10m, Curral, Criei alguns animais, plantei agricultura para minha sobrevivência, 2 hectares de frutas e 2 de café.

Para completar, minha desilusão, a um 4 anos atrás, essa área foi incluída na reserva extrativista.

Tendo procurado as autoridades competentes c até um Deputado Estadual, eleito pelo município nada consegui c todos dizem que é Lei Federal e não está em suas alçadas.

Como o meu caso, existem um grande número de ribeirinhos, que estão

Na mesma penúria

Para esclarecer melhor, a FUNAI ampliou suas reservas indígenas, sem indenizar ninguém estes foram obrigados, a desocupar a área, aumentando nisso o número de ribeirinhos que vieram morar na cidade, não estando preparado para isso.

Essas pobres famílias sofrem as piores conseqüências, os pais são obrigados trabalhar, como vigias ou capinando quintais, para sustentar numerosa família, e os filhos e filhas sem encontrar trabalho, se tornam ociosos.

Nosso município já está se tomando quase todo reserva, se não me engano, conforme boatos correntes , só restam 30% de áreas para o prefeito administrar.

E assim nosso governo, sem se preocupar com o sofrimento do nosso povo, continua criando reservas para satisfazer o interesse do G7, que a muito está de olho na Amazônia, alegando que é para proteger o meio ambiente, quando na realidade está acabando de entregar a Amazônia.

Quisera eu, ser mais jovem. Porém se eles conseguirem este intento, envenenarei as águas com nossos cipós que bem conheço, para liquidar esses gringos, mesmo que seja meu último ato de vida.

Este brado é também para nossas autoridades militares, para que acordem. Nossas fronteiras que eram bastante povoadas,, hoje se encontram despovoadas. Lembrem-se que o ribeirinho é o sentinela avançado da pátria.

Quero também apresentar sugestões, quando seja preciso criar reservas, para que visitem a região, para não cometerem erros, e que deixem fora da reserva pelo menos dois quilômetros de distância das margens dos rios e seus afluentes, pois assim não prejudicarão os moradores ribeirinhos.

Esta carta é o brado de um velho amazônida que ao longo de duros anos, ajudou a desbravar nossas fronteiras, enfrentando a duras penas intempéries da região e as epidemias que existiam naquela época como: Tifo, Malária, Beri Beri, Filária, Lechimaniose, e várias outros doenças. E que com 78 anos de idade, com o coração partido, vê hoje suas esperanças fracassadas, esperanças estas, que era deixar para meus 10 filhos, e 29 netos e cinco bisnetos, um pedaço chão de minha querida Amazônia.

Esta carta é um desabafo ao povo brasileiro para que saiba como estamos sendo mal governados. Desde já agradeço.

Atenciosamente

José Meireles Monteiro

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