Entrevista com o pioneiro Wilson Fernandes de Guajará Mirim
Semana
passada estivemos fazendo a cobertura do Festival Folclórico de
Guajará-Mirim, na oportunidade tivemos o prazer de conhecer o seu
Wilson Fernandes, pai do secretário de cultura do Estado de Rondônia
Antônio Ocampo. Durante os três dias de Festival, sempre estávamos
batendo papo com seu Wilson, um cidadão que está prestes a completar 86
anos. "Nasci aqui em Guajará-Mirim no dia 27 de setembro de 1919". Um
dia seu Wilson contava as histórias de suas andanças pela mata, e o
respeito que tinha e tem pelos índios. "Nunca fui importunado por um
índio"; no outro, ele falava da cidade, dos antigos comerciantes e das
pessoas influentes da época, lembra com emoção do trabalho de Dom
Xavier Rei "Ele fez por Guajará o que nenhum governador ou prefeito
fez". Chico Torres também é lembrado assim como as famílias
tradicionais da Pérola do Mamoré, a vida social não passou em branco.
"Onde foi o Guajará Hotel e hoje é um colégio, funcionou o Clube
Columbino que era freqüentado só pelos chefões da Cia Madeira-Mamoré e
seus convidados, em Porto Velho era o Internacional".
O
interessante em seu Wilson é a mania de conservar coisas antigas. No
quintal de sua casa que fica a rua Quinze de Novembro esquina com a Dez
de Abril, existe um depósito cheio de tralhas. "Aí dentro tem de tudo,
de machado de índio a bicicleta Gulliver com mais de 50 anos, de bala
de canhão a chave de grifo gigante, assim como deve ter muito rato e
barata". Foram três dias de agradável companhia. Seu Wilson não
escondia a felicidade em nos receber juntamente com sua esposa, dona
Maria Inêz. "Passamos dias e dias só nós dois aqui, os meninos moram em
Porto Velho e só de vez em quando vêm aqui, é um prazer receber vocês".
Antes de me despedir dele na tarde de domingo, prometi falar com a
direção da Rede TV! no sentido de gravar uma matéria para a série "Os
Pioneiros de Rondônia", afinal de contas, não é todo dia que a gente
encontra um verdadeiro desbravador. Com vocês as histórias do seu
Wilson Fernandes.
Zk - Primeiro o senhor vai dizer seu nome completo?
Wilson - O meu nome é Wilson Fernandes.
Zk - Onde e em que dia o senhor nasceu?
Wilson - Nascido aqui em Guajará-Mirim em 1919 no dia 27 de setembro. Vou completar 86 anos.
Zk - O senhor pode falar um pouco de Guajará-mirim?
Wilson
- Dos meus 5/6 anos pra cá, me lembro de muita coisa, antes aqui ainda
não tinha sido elevado a categoria de cidade, de município, ainda era
uma vila. Vila de Esperidião Marques. De Santo Antonio pra cá, era Mato
Grosso.
Zk – Guajará-Mirim passou a ser o nome da Vila desde quando?
Wilson - Sempre chamavam Guajará. Acontece que, como a cachoeira fica do lado
de cá os bolivianos chamavam de Guajará que quer dizer cachoeira e
mirim quer dizer pequena - Cachoeira Pequena ou Guajará Mirim.
Zk - Como era a vida na cidade naquele tempo?
Wilson - Naquele tempo a estrada de ferro acabara de ser inaugurada e tudo
estava em expansão, o comercio prosperando e a cidade crescendo, era
muito movimento.
Zk - Quem era os grandes naquela época em Guajará?
Wilson - Bem o comercio foi um tanto bom, mais aqui tinha os Melhens; Fares
Nacerales, Manoel das Valakis, e um cidadão conhecido mais como
Barateiro; o Marmori Filho; José Garcia do Amaral; depois veio o seu
Vasilakis que se não estou enganado veio de Abunã pra cá.
Zk - E os Bennesby?
Wilson - Não os Bennesby vieram muito depois.
Zk - O senhor trabalhou na Estrada de Ferro Madeire Mamoré?
Wilson – Não, não trabalhei, mas o meu padrasto trabalhou o seu José Monteiro
de Sousa. Fui funcionário dos Serviços de Navegação do Guaporé de onde
passei depois para a prefeitura.
Zk – O senhor como funcionário do Serviço de Navegação do Guaporé o senhor viajou muito pelo Vale?
Wilson - Viajei pouco, eu era comandante, meu setor era mais no trafego, fiz
algumas viagens, passava de 8 a 12 dias, dependendo da situação do rio,
no inverno era melhor para viajar, no verão era muito seco, então
tornava-se um pouco difícil, cuidadoso para viajar devido às
cachoeiras, às pedras por ai.
Zk - Vamos falar da sua família?
Wilson – Meu pai era Paraense a minha mãe Cearense, agora tudo com descendências de Portugueses da parte da minha mãe e do meu pai.
Zk - O senhor casou aqui em Guajará-Mirim em que ano?
Wilson – Casei aqui em 1958, com a Maria Inêz, ela é filha daqui, o pai dela era Peruano e a mãe dela era Boliviana, ela nasceu aqui.
Zk - O senhor tem mania de guarda coisas antigas, como conseguiu essas peças?
Wilson – Consegui nas minhas andanças pela mata. Tenho machado de índio, e outras coisas.
Zk - O senhor gostava de andar na mata?
Wilson - Gostava demais, você passa a sua vida mais próxima da natureza, olha,
nunca fui ofendido por um índio, sempre gostei deles, por causa da
tradição. Outra coisa que sempre respeitei nossos negros que chegaram
no tempo da escravidão. Hoje fico muito triste com a discriminação
com negros e índios, afinal de contas, os índios é que são os
donos do Brasil eles são os donos da terra.
Zk – É verdade que até a década de 50 os índios atacavam pessoas nas proximidades da cidade de Guajará Mirim?
Wilson – Até em 1957/58 ainda era perigoso. Aqui em frente onde hoje nós
moramos, (em frente ao Hotel Lima) era o campo de aviação, por
aqui os índios rondavam de um lado para o outro, era só mata, ali atrás
onde hoje é o Batalhão era chamado de baixa da Manuela, uma pequena
colônia agrícola.
Zk - Qual era a tribo?
Wilson – Eram várias tribos, hoje não me recordo mais os nomes. Tinha os Makurapes e tantos outros.
Zk – Em suas andanças pela mata, nunca foi importunado pelos índios. Tem alguma técnica especial para cativar os índios?
Wilson – Minha técnica era respeitar os índios, o que eu que encontrava de
ferramentas, de coisa que não servia mais para o trabalho, eu deixava
pra eles quando voltava lá depois de 10 ou 15 dias, eles já tinham
pegado. Certa vez um índio já era civilizado me disse: O senhor pode
andar na mata que índio não mexe com você. Isso sem dúvida, porque eu
levava o material que eu não usava pra eles. Eles podiam até me
conhecer porque eu não os conhecia, índio ve a gente mais a gente não
ver eles.
Zk - O senhor chegou a visitar alguma aldeia?
Wilson – Visitei! No alto Rio Branco estive em cinco aldeias. Rio Branco fica
perto do Rio Guaporé, ali foi um grande produtor de borracha, castanha,
eu passei mais de mês lá, com os índios, eles já estavam meio
civilizados cada tribo tinha suas malocas, mais eles se entendiam bem,
agora, dali mais pro centro da mata já era perigoso, mais aqueles que
estavam ali, não ofendiam ninguém.
Zk - O que o índio festejava?
Wilson – Geralmente nos finais de semana eles faziam festas, só que as músicas
deles eram com instrumentos feitos por eles mesmos, flauta feita de
taboca, realejo que é feito de taboquinha também, a musica e os ritmos,
são característicos deles.
Zk – De quem era o Serviço de Navegação do Guaporé?
Wilson - Antigamente era Empresa Brasileira de Navegação, depois que passou a
ser o território. Quem realmente criou o Serviço foi o Coronel
Saldanha. Paulo Cordeiro da Cruz Saldanha. Trabalhei no Serviço de
Navegação no tempo dele. O Serviço já teve tanto e cada vez que muda de
nome vai piorando a situação do serviço.
Zk – Os barcos do Serviço de Navegação iam até aonde?
Wilson - Ia de Guajará até Vila Bela de Mato Grosso a 1600 km, hoje já não faz
mais isso, o Rio Guaporé está no abandono, essa é que é a verdade, um
rio que pode se dizer rico, que trouxe tantas riqueza para essa região
toda está em abandono. Por exemplo, onde hoje é Surpresa ninguém
conseguia encostar porque os índios não deixavam, foi o seu Tancredo de
Matos que conseguiu entrar em entendimento com os índios, e encostou
lá. O nome Surpresa vem daí, para todo mundo foi uma surpresa ele ter
conseguido convencer os índios e se instalar ali.
Zk - O senhor sabe como surgiu Guajará?
Wilson - Aqui era o primeiro Porto depois de se vencer a ultima cachoeira. Era
o ponto de parada para recuperação das embarcações e de descanso, aí
era chamado de guajará-mirim que é cachoeira pequena e também tinha
mais uma outra cachoeira chamada de guajará açu (cachoeira
grande), ali perto da praia que é chamada do Acácio.
Zk - Agora vamos falar dos políticos. Quem mandava em Guajará quando isso aqui passou a ser Território Federal do Guaporé?
Wilson – Olha, naquele tempo, a política era muito diferente o procedimento,
tudo aquilo e mesmo naquela época, aqui já tinha a câmara dos
vereadores já tinha tudo aqui em Guajará.
Zk – E a política no tempo de Aluízio Ferreira e Rondon?
Wilson - Isso já foi num tempo mais pra cá. Era uma política mais pesada. Eu
ainda fiz uma viagem quando o Rondon se candidatou, fui até Vila Bela
de Mato Grosso buscar ele e o doutor Renato Medeiros. Fui à vila Bela
com duas embarcações. Acontece que o Aluízio Ferreira negou a
embarcação do Serviço de Navegação do Território para buscá-los. Então
o Joaquim Moraes que era o Prefeito mais alguns do lado do Renato,
falaram comigo e eu fiz a viagem até Vila Bela.
Zk – Fale mais um pouco dessa mania de guardar as coisas?
Wilson - Sempre gostei das coisas antigas, até de conversar com pessoas mais
velhas quando eu era criança, só para ouvir aquelas histórias que eles
contavam. Hoje as pessoas mais novas não dão atenção para um mais
velho, nem gosta de conversar com os velhos, eu gostava e eles gostavam
de conversar comigo, me contavam coisa como, o sacrifício que foi a
construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, essa Estrada de Ferro
tem uma coisa que prende a gente, aquelas dificuldades de trabalhar
naquele tempo, que não tinha máquina, não tinha trator, não tinha motor
não tinha nada e construíram isso dentro dos terrenos mais difíceis,
pantanais, eles venceram tudo isso, carregando barro de padiola sem ter
transporte. Aqueles homens foram verdadeiros heróis, enfrentando os
índios, o Beribéri a Malaria. O Beribéri foi instinto na região, graça
a Deus.
Zk - Quando existia a Madeira Mamoré e o Serviço de Navegação do Guaporé funcionando, corria muito dinheiro por aqui?
Wilson - O Serviço de Navegação do Guaporé junto com a Estrada faziam conexão
um com o outro. O produto que vinha de baixo quem trazia era o Trem o
Serviço de Navegação pegava e levava pra cima, para Costa Marques e as
cidades do Vale. Na volta, eles traziam borracha, castanha, couro de
animal silvestre, todas essas coisas e outros tipos de mercadorias
vinham das fazendas do lado boliviano.
Zk
– Além da borracha, outra coisa que tinha bastante por aqui era
castanha. Por que parou a produção de castanha. Em Guajará tinha até
usina de beneficiamento de castanha?
Wilson – Não sei o que houve, inclusive tinha a festa da castanha. Até hoje
tem os prédios abandonados; era a Rondobor e a Rondex, uma se ocupava
de beneficiar borracha e a outra, castanha, aquilo tinha dezenas de
pessoas trabalhando, hoje acabou foi tudo, ta lá tudo abandonado.
Ultimamente era dos Bennesby, mas, quem construiu foi o Seu Francisco
Torres, o famoso Chico Torres.
Zk
- O senhor viveu um tempo em que os remédios caseiros, chás, ungüento
tudo era tirado da mata. Fale sobre as plantas medicinais?
Wilson – Conheço uma infinidade de plantas que servem para medicina, é uma
questão de cultivar. Nossos índios têm uma verdadeira sabedoria na
medicina.
Houve um tempo, que fui pedido emprestado da Prefeitura
para administrar o hospital de Guajará; muito bem! Certa altura eu
disse pros médicos numa reunião, que seria interessante nesse Brasil
que o Ministério da Saúde distribuísse grupos de laboratórios para
entrar em entendimento com os índios para aprenderem alguma coisa. O
que vi de folhas, de coisas fabulosas lá no Rio Branco você não queira
saber, é tanto, que dizem, índio morre de velho. Eu aprendi muitas
coisas no tempo que morei na aldeia, não gosto de ensinar porque a
pessoa pode fazer errado e me complicar. Uma vez ensinei um camarada e
ele arrancou a planta errada. Na mata tem remédio pra tudo, inclusive
pra catarata, uns dos casos que eu vi lá, foi à catarata externa, que é
aquilo que os antigos chamavam de carne crescida, que vai avermelhando
os olhos e vai crescendo, até chegar ao centro da visão e a pessoa
perde a vista. O índio cura isso com a raiz do Jaborandi, hoje os
americanos levaram nosso Jaborandi e estão nos vendendo produtos, como
sabonete de Jaborandi, colírio na base do Jaborandi e no Brasil não
fazem nada. Os alemãs estão ai junto com os nossos índios aprendendo e
muitas vezes eles estão plantando o que é nosso. Esse é um país
riquíssimo, de um povo pobre. Pobre por falta de aproveitamento das
nossas coisas.
Zk - Vamos falar de uma pessoa que viveu e muito fez por Guajará e pela região. Dom Xavier Rei?
Wilson - Dom Xavier Reis chegou aqui em 1938. Aquele homem trabalhou aqui
nessa região e fez o que nenhum governador fez. Um dos feitos dele que
até hoje eu lembro, foi o Barco Hospital. Ele não era médico formado,
mas antes de ele ir para o clero estudou medicina até o 4° ano. Ele
construiu o barco e subia até Vila Bela atendendo tanto do lado do
Brasil como do lado da Bolívia. Depois construiu escolas, acontece que
nenhum professor da cidade queria ir pra beira do Guaporé. Como ele
tinha feito o colégio em Guajará trouxe 28 meninas do Guaporé e
internou, depois de 4 ou 5 anos elas já saíram formadas. Enquanto elas
estavam estudando, ele estava no beiradão construindo escolas, depois
delas formadas ele saiu distribuindo elas por ai, até nas aldeias de
índios tinha escola feita por Dom Xavier Rei. Ele dizia sempre, sou
Padre só na hora da missa. Ele era tudo, carpinteiro, mecânico, tudo
que você imaginar.
Zk – Quer falar sobre a Colônia do Iata?
Wilson – Antes teve um núcleo agrícola, depois criaram um outro onde agora é
Vila Nova do Iata. Tudo que se consumia de produtos agrícolas no
Território do Guaporé naquele tempo, era produzido na Colônia do Iata.
Inclusive, quem planejou Vila Nova fui eu. Quando fui pra lá, a Vila só
tinha uma casa. Eu era topógrafo. Em Guajará fiz muitos serviços nessa
área, os antigos daqui sabem disso. Fui tesoureiro por quase dez anos,
fui desenhista progressista e até explorador da mata eu fui. Esse
menino que é dono Guaraná Parecis às vezes ficava na tesouraria
enquanto eu ia fazer serviço de topografia.
Zk – E a prefeitura não tinha como contratar topógrafo?
Wilson - Naquele tempo, no auge do garimpo, as companhias levavam os
topógrafos. A prefeitura tinha dois topógrafos, o seu Armando Menezes e
o seu Moacir.
Zk – Essa rua 15 de novembro onde o senhor mora hoje, existe desde quando?
Wilson - Na verdade, a rua central era a Mendonça Lima. Quando viemos morar
aqui só tinha mato, o campo de aviação ainda era aqui em frente e o que
existia era um varadouro de carroça. Não tina água, não tinha luz não
tinha era nada.
Zk – Vamos falar sobre a vida social da cidade. Dos grandes clubes sociais?
Wilson - O Helênico foi um clube criado pelos Libaneses, ainda hoje o prédio
existe só que está abandonado ali perto da delegacia federal. Vi muitas
festas bonitas ali, Na realidade a alta sociedade se reunia no Helênico.
Zk - E o Guajará Hotel?
Wilson – O Guajará Hotel também se acabou. O governador Jorge Teixeira
encampou o hotel naquele tempo, para construir o colégio e colocou nome
da Senhora Mãe dele. Na realidade, no inicio, aquele prédio foi um
clube freqüentado pelos construtores da Estrada de Ferro e que chamavam
de Columbinos, tinha o Columbino aqui e em Porto Velho tinha o Clube
Internacional.
Zk – Que história é essa de último avião?
Wilson - No ano retrasado fui a Costa Marques coma minha esposa Maria Inês e
fomos de avião. Foi a ultima vez que o avião foi pra lá. Nós voltamos
de lancha, ai eu fiquei olhando de um lado e outro. Do lado da Bolívia
tem mais propriedade e do lado de cá está quase tudo acabado, quando eu
passei em Conceição o chefe de lá era um cidadão de nome Lisboa,
Conceição era uma espécie de miniatura de Costa Marque não tinha campo
de aviação, mas, tinha escola, água encanada, tinha até escola de
música porque ele era musico, agora, você passa por lá, não ver mais
nada, é só mata. Aquilo era como uma cidade que devia ter
progredido, agora acabou e assim outras propriedades por ai.
Zk – As ilhas que existem em frente da cidade de Guajará pertencem a Bolívia ou ao Brasil?
Wilson – O nome da principal, é Ilha Soares uma homenagem a uim cidadão
que tinha uma criação de porcos, e seu nome era Soares. Na verdade a
ilha é brasileira, porque o canal do Rio é do lado de lá (da Bolívia),
isso foi esclarecido por Rondon e um Coronel Boliviano que era
engenheiro hidroviário, então eles organizaram uma comissão e foram
procurar esclarecer. Acontece que naquele tempo sempre tinha uma
coisinha, brasileiro dizia que era dele e boliviano dizia que era dele,
então eles foram com uma comissão subiram até muito e depois vieram
fazendo estudo e chegaram na verdade a conclusão que a ilha era
brasileira.
Zk – O senhor concorda que o ponto de maior movimento da Estra da Ferro Madeira Mamoré era Vila Murtinho?
Wilson - Vila Murtinho! Aquilo nadou em dinheiro, todo produto da Bolívia
escoava por Vila Murtinho, agora você passa por lá e está tudo acabado
até a Igreja. Naquele tempo vinha o trem de "lastro" como chamavam só
pra levar produto da Bolívia. Vão criando uma coisa e vão abandonando
outra.
Zk - O Senhor foi Boêmio?
Wilson - Não,eu nunca gostei disso porque era uma criação diferente de hoje,
me lembro que quando ia ao cinema que era uma das diversão da
gente, minha mãe dizia, o cinema termina dez e meia, até onze horas
esteja aqui em casa. Primeiro era o cinema mudo, o filme era preto e
branco, aparecia às legendas e depois as figuras, quando apareceu o
primeiro cinema falado ixi nem queira saber. Depois de muito tempo fopi
que veio o cinema em cores.
Zk - Seu Wilson nós estamos chegando no final da nossa entrevista. Vamos flar sobre seus filhos. Quantos são?
Wilson - Nós temos oito filhos todos nascido aqui em Guajará, são cinco homens
e 3 mulheres, temos o Antônio Ocampo (secretário da Secel), Sérgio,
Wilson que nós chamamos de Wilsinho, Fernando, o Cândido é o ultimo de
todos e é o mais alto. As mulheres são, Neila, Nilva e Nélia, todos
eles são formado
Zk - Hoje Guajará Mirim esta por conta de bois bumbas, como é isso?
Wilson – Bem, o boi aqui na nossa região vem dos tempos mais antigos quando eu
nasci já existia dança do boi por aqui. A dona Gregori foi uma das que
manteve a brincadeira de boi ela ganhou até um premio. Agora o boi se
modernizou e está nas mãos de outras pessoas e quando chega o Festival
é essa festa que você está vendo. Guajará respira Boi-Bumbá no mês de
agosto.
Zk – Como o senhor se sentiu ao nos conceder essa entrevista?
Wilson - Isso é importante para nossa região, procurar pessoas que
contem alguma história, eu estou contanto por pedaço um aqui e
outro lá, e vai completando, nossa região, tem uma Historia bonita, dos
tempos dos navegantes quando as viagem eram feitas a remo com quarenta
e tantas corredeiras e cachoeiras, não é mais para o povo da nossa
época, era aquele povo daquela época que eram os verdadeiros heróis
enfrentavam as adversidades do tempo e chegavam. Palheta veio de Belém.
Uma ocasião eu estava na prefeitura, quando ouvi uma secretária dizendo
que o Igarapé Palheta pegou esse nome porque um camarada havia perdido
a palheta de um motor ali na boca do rio, Não me contive, Palheta virei
pro lado dela explicando, foi porque quando o navegador Palheta chegava
aqui levava suas embarcações para serem reparadas naquele local. Então
o nome é uma homenagem a Antônio Palheta.
Zk – Qual sua receita para se chegar a sua idade em plena forma?
Wilson - Eu gosto de andar de bicicleta. Ando Guajará quase todo, eu posso ter o carro, mais prefiro a bicicleta.
Zk - O senhor faz quantos quilômetros por dia?
Wilson – Chego a fazer 10 quilômetros, saio de casa vou ao porto aí pego
aquela avenida asfaltada e vou até onde ela termina; vou para o bairro
do Planalto e rodo tudo isso aqui e volto pra casa, só do Porto a Serra
são 10 Km. Antigamente, daqui ao palheta eram 22 Km, e hoje dizem que é
são 18 Km. Naquele tempo tanto aqui como em Porto Velho todas as
medidas partiam dos trilhos da Estrada de Ferro.
Zk – E religião?
Wilson - Acredito em Deus e em Jesus. Essa é minha religião.
Fonte: zekatraca@diariodaamazonia.com.br