A história
da presença africana no Brasil tem um importante capítulo escrito em Vila
Bela da Santíssima Trindade. Ainda hoje a cidade mantém viva, através dá cultura
popular, a memória de uma época em que a força de trabalho escrava construía,
com suor e sofrimento, as bases do que chamamos de pátria. Riqueza cultural
é, aliás, o maior patrimônio da população de Vila Bela. Através de festas
como a do Divino Espírito Santo, São Benedito e das Três Pessoas da Santíssima
Trindade, padroeira da cidade, a população, composta majoritariamente de negros,
celebra sua origem e o sincretismo religioso resultante do convívio com os
brancos.
Fundada
sobre o acampamento garimpeiro de Pouso Alegre pelo nobre português Antônio
Rolim de Moura, primeiro governador da província de Mato Grosso, Vila Bela
surgiu de um conjunto de fatores. O mais importante deles, a consolidação
do domínio português no Vale do Rio Guaporé, na fronteira com a Bolívia. Exploradores
e funcionários dos reinos de Portugal e Espanha percorriam a região desde
o século XVI. Em 1731, os irmãos Arthur e Fernando Paes de Barros se aventuraram
pelo Guaporé em busca de mão-de-obra escrava de índios e ouro. A vegetação
fechada da região inspirou o nome que deram ao lugar: Mato Grosso. Brotava,
assim, aquela que seria a denominação oficial do futuro Estado.
Rolim
de Moura implantou Vila Bela da Santíssima Trindade em 19 de março de 1752,
para ser a capital de Mato Grosso. Em 1825, por injunções políticas e estratégicas,
Cuiabá passou a ser também a sede administrativa da capitania, o que deflagrou
o processo de esvaziamento populacional de Vila Bela. A Lei 19, de 28 de agosto
de 1835, retirou o status de capital de Vila Bela, que a partir de então passou
ase chamar Mato Grosso. A cidade ficou praticamente vazia. A população negra,
porém, por motivos até hoje não muito claros, permaneceu na povoação, cultivando
a cultura de seus ancestrais. Em 29 de novembro de 1978, a lei estadual 014
devolveu à cidade o antigo nome de Vila Bela da Santissima Trindade.
A cidade
permaneceu estagnada no tempo até que três fatores influenciaram a retomada
de seu crescimento. Em 1906, o marechal Cândido Mariano da Silva Rondon implantou
um posto telegráfico em Vila dos Pretos (primeiro nome de Pontes e Lacerda),
distante 80 km de Vila Bela. Em 1962, o governo estadual implantou a MT-246
e assegurou ligação rodoviária durante todo o ano com Cáceres - até então,
no período das chuvas, Vila Bela ficava isolada do restante do pais. E, em
1983, o presidente João Figueiredo implantou a BR-174, que liga Cuiabá a Porto
Velho (RO). A rodovia cruza a faixa de fronteira com a Bolívia e seu eixo
de influência beneficia diretamente os municípios do Guaporé.
(Sérgio
de Oliveira - Jornalista)
1. -
ORIGEM DO MUNICÍPI0 DE VIDA BELA DA Ss. TRINDADE
- RAÍZES HISTÓRICAS
Vila
Bela da Santíssima Trindade, foi fundada pelo Capitão-General Dom Antônio
Rolim de Moura, no lugar denominado Pouso Alegre, à margem direita do rio
Guaporé em 19 de março de 1752, por determinação do rei de Portugal, sob a
evocação das três pessoas da Santíssima Trindade(pai, Filho e Espírito Santo).
A história
nos revela que Vila Bela foi fundada para
ser a sede da Capital e consequentemente assegurar o domínio da região
contra os espanhóis, e também pela descoberta do ouro no vale guáporeano.
Antes
porém da sua fundação os mineradores de ouro já haviam
formados os arraiás de: Sant'Ana, São Vicente, São Francisco Xavier e de Nossa
Senhora do Pilar, constituindo assim os marcos povoadores da nova cidade.
0 primeiro
governador foi Dom Antônio Rolim de Moura, a quem coube a missão de escolher
o local para construir a cidade, providenciar a instalação da sede, do governo
e zelar pela segurança militar da região, de acordo com as instruções básicas
recebidas em Lisboa. Esse lugar apresentava as seguintes características:
clima ameno e menos doentio que a dos outros arrais; situado à margem do rio
Guaporé com posição geográfica defensável; campos com pastos para animais;
densas florestas com grande quantidade de madeira e uma grande extensão de
terra para. os moradores desenvolver a lavoura.
Na cidade
foram construídos o Palácio dos Capitães- Generais, igrejas, cadeias e outros
órgãos da administração. Vila Bela nesse período (século XVIII), era uma,
cidade moderna e obedeceu a um plano urbanístico pré-elaborado seguindo as
modernas construções da
época ou seja: traçado da cidade em xadrez, ruas largas e retas e praças espaçosas.
A arquitetura
e decoração dos edifícios públicos e particulares obedeciam ao estilo português
da, época Dessa forma Vila Bela era uma cidade arquitetônica uniforme.
0 desenvolvimento
da nova cidade mereceu especial atenção e cuidado do governador Antonio Rolim
de Moura que concedeu privilégios aos moradores que quisessem ali fixar residências,
pois urgia o povoamento da região, a fim de evitar a expansão espanhola.
No entanto,
a decadência da mineração e a mudança da capital para Cuiabá, determinaram
que pouco a pouco Vila Bela perdesse sua condição de capital e sua população
fidalga. Nestas condições Vila Bela ficou esquecida por um longo período por
parte das autoridades. Seus habitantes na maioria provenientes da África,
especificamente da região de Angola e Guiné e também os índios parecis e os
nhambiquaras permaneceram fiéis a essa cidade, convictos de que este espaço
geográfico voltaria a se integrar com o resto do Estado.
Devido
a ausência de correntes migratórias, essa população manteve ao longo ao tempo
sem se miscigenar, fato atribuído a inexistência de meios de transporte e
comunicação, permitindo-lhes a conservação de seus caracteres originais. Nestas
últimas décadas o
quadro demográfico tem sofrido grandes modificações, isto devido a entrada de migrantes vindo de outras áreas do
Brasil; atraídos pela política de interiorização da economia nacional, ou
seja o incentivo do governo à agricultura.
Para
os vilabelenses o passado contempla, com fé o futuro.
FOLCLORE
DE VILA BELA
Além
das inúmeras atrações turísticas já citadas, a pacata cidade do Vale do Guaporé,
onde só agora esta chegando o progresso, Vila Bela ainda oferece as festas
tradicionais, como a do Divino Espírito Santo, São Benedito e dança do Congo,
realizadas sempre no mês de julho, são atrações que merecem
ser assistidas, a animação toma conta de todos e estes acabam participando
dos festejos.
Como
em tudo que cerca Vila Bela, os próprios participantes não sabem dizer como
surgiu essa tradição, somente dizem que, desde que nasci,
isso já existia.
DANÇA DO CONGO A Dança do Congo, surgiu com as vindas dos escravos de origem africano (Guiné) para Vila Bela, aqui desenvolvendo suas atividades e respectivamente seus costumes. A dança é representada por uma disputa de poder, entre o reinado e a comunidade negra escrava. O Reinado era representado pelo Rei do Congo, Secretário de Guerra, e o Príncipe. A comunidade representada pelo Embaixador figura chefe, e seus soldados rebeldes. O fato ocorreu por uma carta do Embaixador enviado ao Rei do Congo, pedindo sua filha em casamento, o mesmo achou isso muito provocante e audacioso, tomou providências imediatas, determinando seu secretário para investigar quem era esse povo. Logo a seguir, o secretário dirigiu-se para as comunidades com finalidade determinada de se saber o que estava acontecendo, investigando ouviu muitos barulhos, boatos e comentários, informando o acontecimento ao Rei, este inconformado com a mensagem, determinou novamente para outra missão, e que após cumprida encontrou um grupo rebelde que se identificaram dizendo: que Somos os Pretinhos de Guiné, coroado de penas, vestido de galassete e metido em alma contra seu Rei da monarca: O emissário retornou .,imediatamente para informar o Rei, transmitindo a mensagem. O Rei novamente determinou ao seu secretário com rigor dizendo: se for gente de festa, que combate em festa, se for gente dê/guerra, que combate com guerra. Chegando o secretário no local, ficou surpreso com o manifesto dos rebeldes, declarando guerra, guerra contra o Rei da monarca, o chefe dos rebeldes representado pelo Embaixador, diz: vai dar parte para seu Rei que aqui chegou o Embaixador de guerra de mumbique e mumbaca, tque traz cartas e mucamba que manda seu rei morrer de bamba. E, bem saber que nesta data festeja o Glorioso São Benedito. O Secretário ajoelhou-se diante do Rei e disse: os campos estão tomados por teimosos mumbumbos e que precisaria de um posto maior para vence-los, o Rei convocou o seu filho Príncipe, .para ajudar na batalha, dando a chave dourada do seu peito para trazer esses fidalgos na sua presença, assim como manda a coroa, diante do pai o filho prometeu que tiraria as cabeças deles todos e seguiu junto do secretário, e chegando lá convocou o Embaixador para comparecer diante do Rei, e o Embaixador disse, obedeço o seu chamado. Chegando diante do Rei entregou uma carta, e o Rei determinou ao seu secretário a fazer a leitura, a carta dizia: "meu irmão rei do Congo, vos remeto essa mucamba, pelo mesmo embaixador mande guerra que tu prometeste sua filha princesa dona Maria Ana de Gouveia caso não casar fazerei guerra até vencer, o rei respondeu, pois embaixador por essa atrevida mucamba ficará preso no meu reinado e saberás que meu reinado é lavrado de ouro e prata. O Secretário voltou a campo e perguntou aos rebeldes se conheciam o secretário de guerra; os rebeldes disseram: - não conhecemos, mais ele usou da força e rendeu os rebeldes desarmando todos e humilhando, levando-os a presença do Rei, onde foram obrigados a fazerem seus pedidos de desculpas. RELATOR - NAZÁRIO FRAZÃO DE ALMEIDA |
Preferem narrar o que acontece na dança do Congo, ou uma
guerra travada em que todos os soldados morrem. Tudo isso em meio de danças
e cantigas diversas que deslumbram a todos.
Tudo começa exatamente as 4 horas da madrugada e segue dia e noite adentro
durante as vinte e quatro horas, com os participantes demonstrando satisfação
em participar e jamais cansaço.
Percorrem
toda a cidade buscando os festeiros, e leva-os para a Igreja, onde é celebrada
a Missa, nunca assistida pelos participantes da dança do Congo.
Voltam
novamente para casa e depois saem às ruas, encontrando a todos com as curiosas
musicas e a dança, uma mistura de samba com batuque.
Em Vila
Bela existe a mais pura congada do Estado.
O ritual
da dança de guerra e da luta entre dois reinos, por causa de uma princesa
que tem o auge numa batalha final na qual vence o Rei do
Congo.
O Embaixador é o Máximo de Assunção é um vilabelense que representa este papel à 38 anos, é ele o símbolo próprio dessa tradição.
0 Embaixador
faz o papel de opositor do Rei dos Congos, o homem a quem foi prometido, depois
recusado a bela princesa.
Tudo
começa no interior da Igreja Matriz, no trono principal esta colocada a imagem
de São Benedito, onde os negros uma irmandade cultuam-o com muito barulho.
Nomeiam
um Rei e uma Rainha, Juizes e Juízas de varas e promessas. No dia da festa
de São Benedito, o Rei, em cuja casa se reúnem todos, os Juizes e saem com
uma corôa de prata na cabeça, acompanhado de musica e grande número de acompanhantes
levando todos chapéus de sol abertos.
Precedem-no
uns vinte, vestidos de longo, com seus cocares de penas, tocando adufor e
pandeiros e um instrumento de taquara dentada, dançando e cantando, seguindo
até a casa da Rainha, onde se encontram as Juízas, das quais oferecem o lado
direito e a proteção dos chapéus de sol, continuando depois, entre foguete
e cordilheiras de bombas, a marcha ré até à Igreja, onde tem suas cadeiras
enfeitadas de flores e galões de onde assistem a festa.
Retiram-se
depois para a casa do Rei e da Rainha, onde saciam o apetite em pomposo Jantar.
A tarde acompanham a procissão e depois tem lugar
ao Baile de Longo, que percorre as ruas da cidade, entrando mesmo em
algumas casas, os dançarinos até que soem as horas de recolher. (dados colhidos
do livro Folclore Matogrossense).
PARTE
DOS VERSOS CANTADOS
"Chora
congo, vamos embora
nossa
Rainha coroado rei
licença
senhor
monarca
quer chegar
São Benedito
nos iremos festejar,
sai,
sai enganhare
sai calunga
guerra mondôe
Festeja
São Benedito, que é chegado
nosso
dia.
Sai,
sai enganhare,
Ele chama
ô ô guerra,
Entre
moça sarabanda
Nosso
preto é de Guiné,
Festejamos
nosso Monarca
Se é
bonito, ele é ...
São comemoradas
três grandes festas religiosas conjuntamente. Em dez dias o povo realça a
sua cultura e tradição.
A festa
do Divino é composta de varias Personagens, que lembram o período colonial,
como o Imperador que carrega a Corôa em procissão e a Imperatriz que carrega
o Cetro.
Atrás
deste e dentro do arco, um quadrado foi feito com quatro paus compridos, que
separa os festeiros da população e simboliza o afastamento
social, extremamente realçado na época da colônia.
Na procissão,
as tradicionais bandeiras, a do pobre que segue a frente arrecadando esmolas,
que é o Alferes da Bandeira e a Bandeira do rico levada pelo Capitão de Mastro,
que nada faz a não ser carregar a Bandeira. Junto também à procissão, está
o mestre dos foliões, uma espécie de maestro que com o seu violão conduz os
foliões geralmente cantando hl nos religiosos em homenagem ao Divino.
Por fim
a ramalhete que são pessoas que tiveram suas promessas cumpridas e por isso
dançam em agradecimento.
Com o
intuito e o firme propósito de pesquisar, procurando descobrir mais e mais
sobre Vila Bela, deparei com um artigo no jornal "A Hora dos Municípios"
datado de 16 de março de 1984, escrito
com muita garra e conhecedor da vida dos vilabelenses, achei que seria de
suma importância transcreve-lo na sua integra, enriquecendo esta página, o
Artigo é do eminente jornalista José Eduardo do Espírito Santo.
0 VALE
DA ESPERANÇA
Ta]vez
mais do que outros municípios de Mato Grosso, o de Vila Bela da Santíssima
Trindade tenha razões e direitos de sobra para gritar, reclamar e reivindicar.
Não só porque esteja sofrendo hoje, como todos os demais municípios brasileiros,
as agru ras desses tempos difíceis que vivemos mas pelo simples fato de que
até agora, malgrado os anos de aparente fartura e de milagres já experimentados
pelo Pais, ele tem permanecido sempre à espera da concretização de esperança
que nunca chegam ou de promessas que jamais se materializam. Vila Bela - e
esta é a primeira verdade a ser ressaltada - sempre foi uma espécie de cidade
dos proscritos, dos abandonados, dos deserdados, dos esquecidos ou, se preferirem,
dos não lembrados. Foi assim desde os tempos em que a antiga sede da Capitania
de Mato Grosso, que era em Vila Bela, mudou-se por volta de 1820 para a florescente
Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá e que aqui ficou, resistente e também
maltratada, a partir de 1835, quando a mudança de fato se oficializou.
Desde
essa época até seguramente 1970,portanto durante 150 anos, Vila Bela da Santíssima
Trindade, depois Mato Grosso e agora novamente Vila Bela da Santíssima Trindade,
não apresenta praticamente qualquer tipo de registro quando se procura, como
procuramos, levantar documentos sobre a presença da administração mato-grossense
e brasileira na região do Vale do Guaporé. A cidade não se isolou porque quis
ou porque tenha se rebelado no decorrer de todo esse período contra a mudança
da Capital para Cuiabá que também permaneceu distante das atenções do Poder
Central por mais de dois séculos. Ela isolada, deixada de lado certamente para desaparecer com o tempo, sumir
do mapa, implodir, sucumbir diante da fome,
da doença que não perdoava a ninguém e das barreiras intransponíveis que a
separavam dos maiores centros do Estado e da Nação.
Logo após
a transferência da Capital para Cuiabá, numa decisão política que iria alterar
profundamente os destinos e a sorte de Vila Bela, muito Pouca coisa ficou
por lá em termos de estrutura de sustentação para aqueles que permaneceram
no lugar
E quem
permaneceu não foram os antigos dirigentes, ainda que momentâneamente desamparados
pelo novo P ?????????????????
AS
TRADIÇÕES CULTURAIS
Com a
entrada de migrantes no município, as tradições do povo de Vila Bela tem sofrido
sensível alteração, isto é notado na sede municipal onde está residindo toda
a população original.
Dentre
as tradições que mais se destacam são:
- Festa do Divino. Espirito Santo - realizada no penúltimo Domingo do mês de julho. Os principais componentes são:
O Imperador, Imperatriz, o Capitão do Mastro, um alferes da bandeira, um Mestre
da Folia, e quatro foliões.
à festa
do Divino Espírito Santo. Os principais elementos são: 0 Rei, Rainha, Juiz
e Juíza, escolhidos entre as irmandades.
- A Pesca
- com fisga e com. arco e flecha é uma tradição herdada dos índios.
Confecção
de pratos típicos, tais como sarapatel de tracajá, tucunaré moqueado, bolo
de arroz biscoito de povilho; doces caseiros de milho, laranja, limão, mamão,
mangaba e bebidas como: licor de pequi, figo, jenipapo,
leite de tigre, fabricados principalmente no período da festa tradicional
da cidade e são muito apreciados pelos visitantes.
- Lendas,
Superstições e Crendices em todo lugar o povo guarda consigo superstições,
certas crendices e Vila Bela não foge à regra, tendo os seus habitantes as
lendas e superstições conservadas na mente, que foram transmitidas de gerações
velhas para as mais novas e assim continuará.
Entre essas estórias ouve-se falar do Saci-Pererê, Mãe-d'água,
Cobra Grande, Curupira e outras.
Exemplo:
quando uma coruja canta em cima da casa, alguma coisa ruim vai acontecer na
família.