FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO, VALE GUAPORÉ

A Festa do Divino tem sua origem em Portugal e foi estabelecida pela rainha Dª. Isabel, casada com o Rei D. Diniz, por volta das Primeiras décadas do século XIV.

0 Imperador do Divino gozava de direitos próprios de um soberano, libertando presos comuns em certas localidades Portuguesas e brasileiras.

Para a organização da festividade havia a FOLIA DO DIVINO, grupo de pessoas pedindo e recebendo auxilio de toda a espécie A folia constituía-se de músicos e cantores com a Bandeira do Divino, ilustrada com a pomba simbólica. Essas FOLIAS percorriam grandes regiões, gastando semanas ou meses inteiro.

Em Rondônia, a festa do Divino tem expressividade no Vale do Guaporé, onde a população ribeirinha , Procura manter viva a tradição do festejo.

0 Culto ao Divino foi introduzido no Guaporé por volta de 1894, pelo senhor Manoel Fernandes Coelho, quando de sua mudança de Vila Bela do Mato, Grosso para a localidade de Ilha das Flores. Naquele ano, o Senhor Manoel Fernandes fez vir de Vila Bela, a coroa de Prata e juntamente com outros adeptos, realizou os festejos do Divino naquela localidade. Todos os anos posteriores até o ano de 1932, o Divino foi festejado naquele local, sendo então, os festejos transferidos para Rolim de Moura. Após o falecimento dos principais membros da Irmandade local, a senhora Eduvirgem Leite Ribeiro, viúva do falecido Argemiro Leite, regressou para sua cidade de origem, Vila Bela da Santíssima Trindade, levando a Coroa de Prata, símbolo da festividade do Vale do Guaporé.

Reuniram-se, então, os principais membros da Irmandade da época, moradores das localidades de Tarumã e Rolim de Moura, ou seja: Antão Gomes, Manoel Canuto, Antonio de Freitas, Norberto Quintão, Maximiliano de Brito, Bernardino Nery da trindade, Cândido de Moraes e Gonçalo Moraes, que depois de vários debates, solicitaram à senhora Eduvirgem Leite, que lhes devolvesse a Coroa de Prata.

Tendo concordado, a senhora Eduvrigem Leite entregou a Coiroa de Prata ao senhor Bernardino Nery, que era o antigo irmão da localidade de TARUMÃ.

Assim, no ano de 1933 foi realizado o festejo em TARUMÃ, e foi feito o sorteio entre as localidades de TARUMÃ e ROLIM DE MOURA, para decidirem em qual localidade seria realizado o festejo do ano seguinte.

Rolim de Moura foi sorteado para a realização do festejo de 1933. Logo após o sorteio, os membros da irmandade daquela comunidade se organizaram para programar os festejos do ano seguinte, de 1934. Entretanto , os senhores Bernardino Nery, Cândido de Moraes e outros membros da Irmandade de Tarumã, não concordaram que o festejo fosse realizado somente em Rolim de Moura. Decidiram então, enviar um ofício ao Bispo da Diocese de Cuiabá, informando-o que as festividades do Senhor Divino Espírito Santo do Vale do Guaporé, nos últimos anos, vinham fracassando e que seria melhor a Coroa retornar para sua igreja de origem.

O Bispo de Cuiabá entrou em contato com o novo administrador apostólico da Prelazia de Guajará-Mirtim, Monsenhor Francisco Xavier Rey, tendo por base o ofício enviado pelos membros da Irmandade da localidade de Tarumã. Monsenhor Rey, então orientou a criação dos Estatutos dos festejos do Senhor Divino Espírito Santo do Vale do Guaporé. Ele nomeou a comissão para os trabalhos de redação. A 20 de maio de 1934, na Capela de Nossa Senhora do Carmo, o Estatuto foi lido e Monsenhor Francisco Xavier Rey, decidiu que as festividades do Senhor Divino Espirito Santo seriam realizadas em Rolim de Moura, enquanto não houvesse outra Capela ou Igreja no Vale do Guaporé.

Em Pedras Negras foi construída a Capela de São Francisco. E, no dia 23 de maio de 1937, foi realizado o primeiro festejo do Senhor Divino, naquela localidade.

De 1937 a 1945 os festejos foram realizados alternadamente em Pedras Negras e Rolim de Moura.

Com o surgimento da Capela de São Miguel, na localidade de Limoeiro, no Rio São Miguel, as festividades foram realizadas também naquela localidade, nos anos de 1945 e 1947.

Com a inauguração oficial da Igreja de São Francisco em Pedras Negras, a Coroa retornou para lá, em julho de 1947, sendo que o festejo foi realizado a 17 de julho, na mesma localidade de Pedras Negras. Assim de 1948 a 1953, ficou obedecendo a um rodízio entre as localidades de pedras negras, Rolim de Moura e Limoeiro. Com a inscrição de irmãos bolivianos, no ano de 1953, foi feito para a localidade de Versalles, República da Bolívia, e em 5 de junho de 1954 foi realizado o primeiro festejo naquela localidade, na Capela de São José.

Em 1955, foram sorteados os Irmãos da localidade de Santo Antônio, em 29 de maio de mesmo ano, foi feito o primeiro festejo naquela localidade. No ano seguinte, o festejo voltou a ser realizado em Limoeiro, na Igreja de São Miguel, aos 20 dias do mês de maio de 1956.

Aos 09 dias do mês de junho do ano de 1957, com muito fervor, foram realizados pela primeira vez os festejos do Senhor Divino na Capela de São Sebastião de Costa Marques.

Atualmente a Festa vem se realizando em sistema de rodízio, atingindo a cada ano a localidades de Pedras negras, Limoeiro, Costa Marques, Pimenteiras, Rolim de Moura e Versalhes na Bolívia. A escolha do Local é feita durante o encerramento dos festejos, através de sorteio e recai de quatro em quatro anos no mesmo local. 0 registro mais antigo sobre a realização dos festejos, data de 1936 e o Estatuto de Criação da Irmandade da Divino Espírito Santo, no Guaporé, data de 1934. No entanto, antigos moradores e descendentes dos primeiros organizadores dos festejos, afirmam que Ata da festa dotada do século passado, em folha avulsa e que foi extraviada durante o período de sua paralização. Esse período ninguém soube precisar. Afirmam alguns que ocorreu após um desentendimento entre os membros da irmandade, cujo Presidente guardião da Coroa, na época, descontentando-se entregou-a a Prelazia de Guajará-Mirim.

D. Francisco Xavier Rey, Bispo de Guajará -Mirim, foi o revitalizador da Festa, por volta do 1934/19 36.

Os festejos

Os festejos do Divino no Guaporé tem: o seu início a partir do momento em, que o Barco do Divino chega à localidade promotora da Festa do ano anterior, e o encarregado da Coroa recebe c Imperador do Divino da localidade, a Arca contendo a Coroa, a Bandeira, as Toalhas do altar e os livros de Ata. Isso ocorre após a quaresma, mais ou menos no período da Páscoa.

Tradicionalmente, a saída do barco dava-se no sábado de Aleluia. Hoje devido as inúmeras dificuldades que os peregrinos enfrentam, não há rigidez quanto a data de saída.

Após o encarregado da Coroa receber a arca, o Barco do Divino inicia sua peregrinação ao longo do rio Guaporé, por quarenta dias, até o final da Festa, colhendo óbolos entre os ribeirinho, 0 Final da Festa dá-se no dia de Pentecostes.

Antigamente, a Peregrinação era feita em barco movido a remos. hoje, os peregrinos utilizam um pequeno motor emprestado de algum membro da irmandade para movimentar a embarcação até perto da localidade, quando , então, o motor é desligado e os remeiros iniciam remadas' cadenciadas impulsionando o barco até o porto.

Ao aproximar-se de cada povoação, 0 Barco do Divino anuncia a sua chegada através de ronqueira (artefato confeccionado em madeira com um cano de ferro por onde é introduzido a pólvora), três buzinadas em chifres de bois, e mais próximos, os remeiros entoam cânticos de chegada e fazem a "meia Lua", em frente ao porto, que consiste em três voltas circulares com, o barco, antes de aportar. As remadas são cadenciadas e os romeiros espargem água para o alto entre uma remada e outra. 0 caxeiro, inicia o toque do tarol.

Á chegada do Barco do Divino, ocorre grande número de pessoas que extravasam sua fé, agradecendo as graças recebidas e pagando suas promessas.

Uns se prostram de joelhos, percorrendo dessa maneira a distância que separa o porto do local de "morada" da Coroa. Outros se introduzem no rio, com água até a altura dos ombros segurando velas acesas, rezando ou chorando, Todos eles acometidos de grande emoção.

0 Divino é saudado com foguetes, alegria, grande satisfação e demonstração de fé.

quando o barco aporta, o encarregado da Coroa sai do barco acompanhado dos foliões, do Mestre dos foliões (que entoam cânticos acompanhados de um violão), do encarregado da Bandeira e os demais tripulantes, são recebidos pelo Imperador e/ou Imperatriz do local. A Imperatriz recebe o Cetro de Prata, e o Imperador a Coroa, das mãos do em carregado da Coroa. A partir de então, os fiéis ajoelham-se e beijam a Bandeira, 0 Cetro e têm a Coroa posta em suas cabeças por breves instantes. É a bênção do Divino, que todos recebem contritamente As esmolas são, então colocadas na bandeja de prata que suporta a coroa.

0 Cortejo dirige-se para a igreja da localidade por breve período, seguindo depois para o local onde se dará a alvorada do Divino ou "velório?", (que acontece durante todos os dias em que a coroa ficar na povoação).

Esse costume é herança dos Portugueses e ainda é conservado em seus aspectos tradicionais. Ao Cair da noite, a Bandeira e a Coroa são recolhidos à casa onde são rezadas as novenas e entoados cânticos. 0 Santo não po de ficar sozinho durante a noite, é velado pelos fiéis e representantes da tripulação do barco.

Durante o dia, a Coroa e a Bandeira são levadas para a visitação às casas, coletando óbolos dos moradores.

Além da esmola, o dono oferece comidas e bebidas a todos do, cortejo. A Coroa só se retira da casa quando o dono autoriza. A dona da casa acompanha a Coroa até a casa vizinha, levando o Cetro, e a entrega à nova anfitriã da Coroa. Se a dona da casa não for casada no católico, não pode levar o Cetro, que nessas circunstâncias, será entregue a outra pessoa presente em sinal de grande apreço à pessoa escolhida. É considerada grande honraria receber a Coroa do Divino e carregar o Cetro da Imperatriz.

São oferecidas as mais variadas espécies de esmolas: dinheiro, bois, cavalos, galinhas, patos, carneiros etc...

Os animais são abatidos para servirem de alimentação à tripulação do barco, e, no final da festa, para alimentarem a todos que estiverem presentes. As esmolas em dinheiro são entregues ao pároco para que sejam utilizadas em beneficio da Igreja da localidade promotora da festa.

No dia do Divino Espírito Santo, final da festa, é feito o carregamento do Mastro da Bandeira por vários homens e mulheres, até em frente a Igreja, onde é hasteada. A Bandeira é pregada em um quadrado de madeira que por sua vez é colocada na ponteira do Mastro. Esse arranjo, possibilita que a Bandeira seja movimentada pelo vento, em várias direções. No dia seguinte, a Bandeira estará apontando na direção onde a festa deverá ocorrer no próximo ano. Depois do hasteamento da Bandeira, celebra-se o culto do Divino na igreja.

0 sorteio do Imperador e Imperatriz do DIVINO de Alferes da Bandeira, do Capitão do Mastro, dos Mordomos. das engomadeiras, da Secretária da Imperatriz e da localidade da Festa do Divino é feito no dia. seguinte. Findo o sorteio, o povo canta, como, bebe, saúda os eleitos e dança.

0 Capitão do Mastro, os mordomos, as engomadeiras e a secretária da imperatriz atuam apenas no dia final da festa.

A Festa do Divino Espírito Santo, no Vale do Guaporé, sobrevive, apesar de todas as dificuldades e contratempos. numa mostra fervor religioso e apego às mais caras tradições da região.

TRIPULAÇÃO DO BARCO DO DIVINO

REMEIROS: - São promesseiros ou foram sorteados no ano anterior; impulsionam o Barco com remadas cadenciadas, Usam lenços brancos amarrados na fronte.

FOLIÕES OU ALUNOS DO DIVINO: - Cantores de 08 a 14 anos, usam lenços brancos amarrados em volta da cabeça, amarrados em baixo dó maxilar inferior.

MESTRE: - Encarregado dos foliões, toca o violão.

CAIXEIRO: - Tocador de Tarol.

ARTILHEIRO OU RONQUEIRO: - Para disparar a salva de tiros.

ENCARREGADO DA COROA.

COMANDANTE GERAL: - o piloto do Barco e zela pela disciplina a bordo.

1 COZINHEIRO e 1 COPEIRO.

ALFERES DA BANDEIRA: - Encarregado da Bandeira do Divino. Atualmente a Irmandade do Divino admite aumentar o número dos remeiros para 14 ou 16,quando a embarcação usada permite, para que possam atender a grande procura por essa função, pelos promesseiros. Havendo muitos promesseiros para participarem da viagem no barco, eles são aceitos nas funções de 2º Copeiro e 2º Cozinheiro.

Os encarregados do. barco da Coroa e o Mestre dos Foliões, são escolhidos pelo Imperador da Festa. Os outros são sorteados ou aceitos por serem promesseiros.

SÍMBOLOS DA FESTA DO DIVINO

BANDEIRA DO DIVINO: - É de cor vermelha com a pomba do DiVino bordada em branco no centro. No último dia. Da FESTA é deixada no mastro ao relento, para apontar o local onde deverá ocorrer a próxima Festa, De acordo com a direção em que se encontrar no dia seguinte, será escolhido o local através de sorteio, colocando-se em uma urna os nomes das localidades que ficam na direção apontada pela bandeira.

 

Hinário

Hino do centenário da festa do Divino Espírito Santo