Majestoso sítio histórico

 

1 - ANTECEDENTES HISTÓRICOS

A-INTRODUÇÃO

"A soberania e o respeito de Portugal impõem que neste lugar se erga um forte, e isso é obra e serviço dos homem de EI-Rei, nosso Senhor e, como tal, por mais duro, por mais difícil e por mais trabalho que isso dê... é serviço de Portugal. E tem de se cumprir."

(D. Luiz de Albuquerque Mello Pereira e Cáceres, 4.o Capitão General da Capitania de Mato Grosso - Jun. de 1776).

Forte Príncipe da Beira

· .. E a história continua. Brasileiros substituíram portugueses nesta árdua missão. Uma plêiade de brasileiros do Exército prossegue orgulhosamente, desde 1932, a missão até então dos antepassados.

A fim de defenderem o imenso continente que lhes legara a bula papel (1492) ou lhes confiara o tratado de Tordesilhas (1494), sentiram os portugueses a necessidade de levantar fortificações em pontos estratégicos da extensa terra brasílica. Fortes, redutos, bateria, fortalezas, praças-fortes, de simples troncos de madeira e taipa grossa ou de volumosas pedra, em notáveis trabalhos de cantaria, imponentes ou de modestos porte, foram surgindo, desde o primeiro século do descobrimento, em todos os pontos ou acidentes geográficos que indicavam ou exigiam uma obra de defesa.

 

Até hoje se reconhece como foram sabiamente escolhidos os lugares em que as ergueram essas fortificações, em número superior a duzentos, e como obedeceram a um plano de defesa estratégica da América portuguesa.

A simples enumeração das obres de fortificação que chegaram aos nossos dias, mesmo em ruínas, é suficiente para mostrar o esforço, a audácia e a determinação de defender a Colônia, que se transformou num dos mais vastos países do mundo.

De todas as edificações construídas que formaram o sistema de defesa fixa do vasto território nacional, multas já inexistentes, outras com ligeiros vestígios ou traços de sua história e do heroísmo dos que es defenderam, a de Forte Príncipe da Beira é considerada como a de localização e construção mais perfeitas que elevam muito alto o conceito de estratégia e da engenharia militar lusitana, no período colonial.
Cumpre lembrar neste ano em que se comemora o bicentenário da fundação do Forte Príncipe da Beira o grande estadista ministro e figura principal do governo de D. José I, Rei de Portugal que lançou as bases da colonização da Amazônia Sebastião José de Carvalho e Mello, o Marquês de Pombal.

Durante a administração desse nobre estadista foram tomadas importantes medidas sobre o Brasil, destacando-se a criação da capitania de Mato Grosso e a construção de um verdadeiro cordão de Fortes e Fortins barrando todas as vias de penetração, que do exterior conduzem ao coração da Amazônia.

Entre os Fortes construídos destacaram-se pela imponência da obra diretamente proporcional à importância estratégica da área, os de São José de Macapá, São Francisco Xavier de Tabatinga, hoje totalmente desaparecido, levado que foi peles águas do Rio Solimões, e o de Príncipe da Beira.

0 primeiro e o último aí estão até hoje como testemunho do arrojo dos primeiros homens da nossa história.

AMERICA ESPANHOLA (Mova o mouse aqui para ver o mapa do Tratado de Madrid)

~ Não se tem nenhuma noticia sobre a exploração do Vale do Guaporé no século XVI I, Sabemos que alguns exploradores, após esse período, desceram o baixo Guaporé, indo até o atlântico, como Nuflo Chaves e Felix de Lima.

0 grande sertanista paulista Raposo Tavares, em 1647, partindo de Piratininga foi até o Peru, explorando depois os Rios Mamoré, Madeira e Amazonas, chegando a São Paulo.

Em 1722, Francisco de Melo Palheta, partindo de Belém, entrou pelo Madeira, galgou es suas dezoito cachoeiras e corredeiras com Santo Antônio, Teotônio, Jirau, Caldeirão do Inferno e outras, entrou pelo Mamoré e foi até Santa Cruz de La Sierra.

Em 1748, o Rei de Portugal, resolveu dividir a Província de São Paulo em duas partas e deu o nome a segunda parte de província de Mato Grosso, nomeando para seu presidente, o Capitão-General D. Antônio Rolim de Moura, que imediatamente tomou posse e chegou ao Brasil, em 1750, disposto a fundar naqueles sertões, uma cidade modelo, atendendo a técnica mais apurada e um planejamento perfeito. Conta-se, atualmente, que no Brasil, só duas cidades tiveram um planejamento integral: Vila Bela, de Mato Grosso e Brasília.

Rolim de Moura, futuro Conde de Azambuja e Vice-Rei do Brasil, trouxe como secretário, Teotônio de Gusmão, irmão do lº Ministro Real, que antecedeu o Marquês de Pombal. Esse nobre depois da fundação da Vila de Santa Maria de Mato Grosso, organizou uma feitoria no Rio Madeira, em uma cachoeira que tem atualmente o seu nome? Salto do Teotônio.

Teotônio de Gusmão, não teve sorte, indo residir na cidade de Santarém do Pará onde morreu na maior penúria.

Vila Bela, de Mato Grosso, prosperou rapidamente, enquanto existia ouro, e com o desaparecimento deste precioso metal, foi decaindo, decaindo, e atualmente só encontramos quase ruínas e uma população rarefeita.

Enquanto os paulistas e portugueses, invadiam o Vale do Guaporé, os espanhóis procuravam o mesmo roteiro, para assegurar a posse da terra, construíram missões jesuíticas, que prosperaram maravilhosamente. Os jesuítas tinham missões em quase todos os rios, afluentes do Guaporé.

A história da construção do Forte Príncipe da Beira como a de todos os outros a oeste da linha de Tordesilhas foi iniciada para balizar a nova fronteira estabelecida pelo Tratado de Madrid de 1750.

Os espanhóis não se conformando com esse Tratado de limites procuraram retomar es áreas que estavam sob sua jurisdição, ao mesmo tempo em que, pela força, barravam a investida dos portugueses para oeste. No Guaporé transportaram a aldeia de Santa Rosa para a margem ocidental. Esta aldeia pertencia a uma redução jesuítica, fundada em 1743 por Atanazo Teodori, que catequizava os (índios da região.

Dez, anos depois o Capitão General Antônio Rolim de Moura, primeiro Governador da Capitania' de Mato Grosso, deixava a recém fundada Vila Bela da Santíssima Trindade e; descendo o Rio Guaporé, desalojou a Missão de Santa Rosa formada pelos jesuítas a serviço da Coroa Espanhola.

No ano seguinte o padre Laines, como medida de represália, contra-atacou a missão com 200 (índios e alguns espanhóis. Rolim de Moura protestou por carta em 17 de junho de 1754 ao Vice Diretor das Missões Espanholas, Padre Nicolau Altogrado e, como não obtivesse resposta, lançou solene protesto, em 3 de dezembro do mesmo ano.

Desceu, então, Rolim de Moura de Vila Bela, estabeleceu um posto militar em Pedras Negras e procurou militarizar locais no Rio Guaporé "a fim de impedir o estabelecimento dos espanhóis em território português". Com seus soldados "aventureiros" que eram sertanistas da região do Guaporé, transformou em 1760 a guarnição de Santa Rosa Velha em um fortim pentagonal que recebeu o nome de Nossa Senhora da Conceição, muito vulnerável e apenas protegido por frágil estacada.

Este fortim sofreu várias investidas dos espanhóis, o que obrigou Rolim de Moura a descer de Vila Bela e defende-lo. Já então não prevaleciam os dispositivos firmados em Madrid, "cancelados, cassados e anulados, como se nunca houvessem existido, nem houvessem sido executados", por novo ajuste entre os monarcas peninsulares.

Escorados nessa transformação política fronteiriça, desfechou o Governador vizinho mais de uma intimação, para que não se mantivesse a ocupação portuguesa da margem direita do Guaporé, onde os missionários castelhanos tinham iniciado a aldeia de Santa Rosa, com os mesmos índios transferidos mais tarde para outra banda, antes que fosse estabelecida a "guarda" policiadora do rio.

Como resultassem inócuas as ameaças, deliberou tomar pela força a posição cobiçada que não lhe era entregue de outra maneira. Contingentes do Peru, de Santa Cruz e de Buenos Aires reuniram-se em 1762 para a investida que deveria expulsar de Santa Rosa os seus ocupantes.

RoIim de Moura, à frente das operações, tomou várias providências como: dotar de pequena artilharia sua ágil flotilha fluvial que ida auxiliar na defesa do reduto, solicita socorro de Cuiabá, Pará e Goiás que lhe respondem de boa vontade e, como não dispunha de armamento para todos, manda "encaibrar em hastes compridas, foices, roçadeiras e várias choupanas de ferro" que iriam manejar os roceiros acostumados à usá-los com habilidade.

A 17 de abril, desemboca no .Guaporé, pelo Itonamas, aparatosa expedição militar que aparentava 800 expedicionários, mas informes posteriores elevariam a 1200, conduzidos em 40 Canoas que pretendiam expulsar do sítio mal fortificado, a guarnição comandada pelo próprio Governador da Capitania que não contara com mais de 200 combatentes às suas ordens.

Desconfiado que pretendiam os sitiantes fazê-Io render-se pela fome, uma vez cortada a comunicação com Vila Bela que abastecia o reduto durante à noite, fura o cerco com um pelotão comandado pelo Tenente de Dragões Francisco Xavier Tejo que, subindo de Baures, com seus vinte e poucos lutadores, chega à missão de São Miguel, aprisiona os padres governantes João Romariz e Francisco Espino e rende todos os 600 a 700 índios, sem resistência. Daí vai para Vila Bela e recebe reforços de pessoal e víveres.

Com sua força aumentada, decidiu Rolim de Moura conter o inimigo na própria paliça em que se defendera como quem não pretendesse mais arredar o pé daquelas paragens.

Dividiu sua tropa em três colunas, sendo que a primeira, sob seu comando operaria à jusante, a segunda com o Tenente Tejo manobraria à montante, e a terceira com pessoal selecionado e a comando do seu ajudante de ordens, escalaria a trincheira.

Com todo arrojo transpuseram a primeira paliçada mas foram rigorosamente contidos na investida sobre a segunda.

Após hora e meia de luta os portugueses contaram com 24 mortos e alguns feridos, enquanto que os castelhanos sofreram perto de centena e meia de baixas, consoante afirmou Rolim de Moura, depois da desmobilização permitida pelo tratado de Paz de que teve ci6ncia a 10 de agosto de 1762.

Rolim de Moura foi substituido em 1765 por seu sobrinho João Pedro da Câmara e, nesta ocasião, o Vice-Rei do Peru, lembrou-se de mandar executar uma velha ordem real da época guerreira. Envia oficiais experimentados do porte de Aymenrich de Chuquisaca, Espinosa, de Paschoal, todos escolhidos por Ceballos para comandar numerosa coluna que vai encontrar em defensiva o sucessor do fundador de Vila Bela.

Antes os espanhóis fizeram um reconhecimento e planejaram habilmente a ofensiva que, se tivessem levado a cabo, perturbariam, sem dúvida a defesa. Concluíram que o reduto de Nossa Senhora da Conceição não resistiria a decidido ataque por forças regulares, ao mesmo tempo que outras fizessem incursões pelos distritos de Vila Bela e Cuiabá.

Câmara não menosprezou a capacidade militar do inimigo, afigurando-se-lhe seriamente ameaçada a integridade do território que lhe cabia defender e, por isso reúne todos os recursos de que possa dispor,solicita reforços do Pará, recomenda ao Capitão- mor de Cuiabá que se mantenha alerta, guarnece o sítio das Pedras com 40 homens e ativa as obras da fortîficação tão cobiçada pelos castelhanos.

Os espanhóis ao chegarem em frente ao fortim Nossa Senhora da Conceição acampam em terreno pantanoso e imediatamente o Comandante envia um destacamento de granadeiros e fuzileiros para guarnecer Santa Rosa Nova, duas léguas a jusante da fortaleza, ainda â margem ocidental.

A força espanhola, cerca de 2000 homens, era muito superior a dos portugueses que em compensação tinham melhor adaptação e o mais exato conhecimento do meio".

Enfrentam-se, pacificamente, por vários dias os dois governadores: o "General Presidente da Real Audiertcia de Chuquisaca", cercado de pomposo exército e oficiais escolhidos e o Capitão General de Mato Grosso, com força 10 vezes inferior mas que se julgava mais perito na arte militar. '

Apesar de contar com efetivo muito inferior, Câmara tinha grande esperança de se apossar da artilharia inimiga, conforme declarou em carta descritiva de seus sucessos e criticando a má escolha do local em que. foi erguida a trincheira inimiga. De mais a mais sabia que, para os montanheses, o "clima, com as multas doenças que produz, é o melhor auxílio que temos a nosso favor."

Não se atemorizou quando soube por um desertor que o assalto estava marcado para o dia 22. Tomou todas as providencias para rechaçá-los e em vão esperou a acometida.

Mais tarde teve conhecimento oficial do que sucedera: D. Juan Vitoriano Martinez de Pinco, Presidente da Real Audiência de La Piata, narra-lhe que seu antecessor Pestana, diante da obstinada teimosia de Rolim de Moura em não abandonar o Forte Nossa Senhora da Conceição, decidira forçar pelas armas o que não conseguira por meios persuasórios.

Por coincidência, recebera no próprio acampamento onde iniciava os preparativos para o assalto, ordem formal, em que o rei, sabedor dos projetos belicosos dos seus súditos, desaprovou-os terminantemente, uma vez que as lutas européias não deveriam estender-se à América.

Esta foi a razão apresentada por Martinez, que substituiu Pestana na Presidência de Charcas, e que não é muito aceitável devido a alguns fatos que levam a crer que os motivos da não concretização do assalto tenham sido outros. As penalidades aplicadas a Pestana evidenciaram o desagrado resultante do seu proceder, perdendo o comando geral. Em sua justificativa atribuiu o seu revés as condições malígnas da região e à resistência do Forte que não experimentara antes de iniciar as hostilidades. Pestana passou em revista suas forças e verificou que só contava com "748 homens acidentados, ou mal convalecidos" sendo que as febres devoraram-lhe mais de 250 depois da partida de São Pedro. Este fato provocou uma reunião do Conselho de Guerra e a oficialidade compreendeu que só a retirada evitaria a derrota castelhana, quando decidiram "por comum e unânime consentimento que não se rompesse o fogo e se suspendesse o ataque da estacada de Santa Rosa Velha."

João Câmara respondeu que "somente agora lhe era manifestado o intento com que veio à fronteira" o predecessor de Vossa Excelência, D. Juan Pestana, cuja marcha até então lhe parecera inexplicável, porquanto nenhum aviso recebeu de hostilidade. Muito se empenhara nesse lance para evitar nocivo rompimento, pela proibição de seus soldados de qualquer ato provocatório. Que jamais teve instrução de seu governo que fosse contrária às disposições do último Tratado de Paz, por isso estranhou a aproximação do exército castelhano. Quanto à fortaleza desconhece qualquer ajuste que obrigue a sua demolição.

Câmara, embora não o dissesse, estava amparado na recomendação da Metrópole transmitida por Mendonça Furtado: "quanto mais respeitável e temida for a Fortaleza, tanto mais firme e segura será a paz e a tranqüilidade por essas partes."

Deste preceito iria valer-se o admirável Luiz de Albuquerque, ao executar seu grandioso plano das posses lusas para garantia incontestável dos direitos de Portugal. Do Paraguai ao Guaporé prolongou-se o seu esforço que iria edificar no deserto florestal, em desafio ás possibilidades financeiras de sua capitania, o forte guaporeano, para suavizar perante à posteridade, o descortino zeloso daquele que empreendeu a construção.

Talvez, se compreendesse melhor este espírito luso da época, o insígne João Severiano da Fonseca não se manifestaria contrário à construção do Forte em sua "Viagem ao Redor do Brasil", embora, confessando-se entusiasmado com a obra monumental mas considerando-a como uma "máquina despropositada e desnecessária."

De todos os fortes de fronteira somente o Forte de Coimbra defrontou-se e lutou por duas ocasiões contra forças poderosas, muitas vezes superiores ao seu potencial. 0 Forte Príncipe da Beira foi construído para, pela sua imponência, respeitabilidade e temor, manter os castelhanos afastados, o que seu antecessor, o Fortim Nossa Senhora da Conceição, soube fazê-lo por duas vezes contra forças também superiores ao seu potencial.

B -A CONSTRUÇÃO

Como um atestado vivo de uma época, ergue-se à margem direita do Rio Guaporé o Forte que assegurou o domínio do Amazonas por muito tempo.

D. Luiz de Albuquerque Mello Pereira e Cáceres criou este baluarte de primeira ordem para que, servindo de sustentáculo ao domínio português neste rio, perante às arremetidas do vizinho Vice-Reinado do Peru, permitisse ao Governo de Vila Bela .prestar maior atenção ao Rio Paraguai. Daí surgiu a idéia de construir no Rio Guaporé, não uma simples estacada como a de Coimbra, mas verdadeira fortaleza com todos os requisitos da engenharia militar, escolhendo para isso, uma Lomba da Serra dos Parecis, dois quilômetros à montante de Conceição, à margem direita do Rio Guaporé.

A falta de recursos, as Iongas distâncias, a proximidade dos espanhóis e toda sorte de dificuldades foram retratadas por D. Luiz de Albuquerque quando exclamou: "A soberania e o respeito de Portugal impõem que neste lugar se erga um Forte, e isso é obra e serviço dos homens de EI-Rei nosso Senhor e, como tal, por mais duro, por mais difícil e por mais trabalho que isso dê... é serviço de Portugal. E tem se se cumprir."

Começaram-se então os preparativos para construção da Fortaleza, e a 20 de junho de 1776 foi lançada a Pedra Fundamental.

Da cerimônia foi lavrada a Ata abaixo transcrita onde se conserva a forma etmológica:

"Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil setecentos e setenta e seis anos, aos vinte dias do corrente mez de junho, vindo o Ilmº e Exmº Senr Luiz de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres a este lugar, situado na Margem Oriental ou Direita do Rio Guaporé, desta Capitania em distância de mil braças pouco mais ou menos da antiga Fortaleza da Conceição; o qual Lugar tinha sido escolhido e aprovado pelo mesmo Senr depois de circunspesctamente o reconhecer, ouvindo a vários Engenheiros, com particularidade ao Ajudante de Infantaria com o dito exercício Domingos Samboceti, a quem, pela sua inteligência, tem cometido a direção principal das obras, para nele se fundar a outra nova Fortaleza que sua Majestade Ordenou, assim porque está livre das maiores excrescências do dito Rio, como porque o terreno hé naturalmente o mais sólido, e o mais acomodado em todos os sentidos que podia desejar-se; ahi por Sua Excia. foi pessoalmente lançada a primeira Pedra nos Alicerces, depois de se lhe gravar a Inscrição seguinte:

JOSEPHO I

LUSITANIAE ET BRAZILINE REGE FIDELISSIMO

LUDIVICUS ALBUQUERQUIUS A MELLO PERERIUS ET CACERES REGIAE MAJESTATIS A CONCILIUS AMPLISSIMAE HUJOS MATTO GROSSO PROVINCIAE GOVERNATOR AC DUX SUPREMUS IPSIUS FIDELISSIMI REGIS NUTU

SUB AUGUSTISSIMO BEIRENSIS PRINCIPIS NOMINE

SOLIDUM HUJOS ARCIS FUNDAMENTUM JACIENDUM CURAVIT ET PRIMUM LAPIDEM POSSUIT ANN0 CHRISTI MDCCLLXXVI DIE XX MENSIS JUNI"

(Esta inscrição encontra-se na lápide comemorativa vista sobre a entrada da Fortaleza).

A tradução ao pé da letra seria a seguinte:

"Sendo José I, Rei Fidelíssimo de Portugal e do Brasil, Luiz Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, por escolha da Majestade Real, Governador e Capitão-General desta vastíssima Província de Mato Grosso, planejou para ser construída a sólida fundação desta Fortaleza com o Argutíssimo nome do Príncipe da Beira com o consentimento daquele Rei Fidelíssimo e colocou a primeira pedra no dia 20 do mês de junho do ano de Cristo de 1776."

"Cuja Pedra foi com effeito posta no Alicerce do Angulo flanqueado no Baluarte, em que de presente se trabalha, cujo Angulo, com pequena differença, olha para o Poente; e determinou o dito Senhor, que a mesma Fortaleza de hoje em diante se denominasse - REAL FORTE DO PRÍNCIPE DA BEIRA - consagrando-se os quatro Baluartes em que há de consistir, a saber: A Nossa Senhora da Conceição, o referido em que se trabalha com direção Geral do Poente; a Santa Bárbara, o outro que vira para o Sul, ambos adjacentes ao Rio; e a Santo Antônio de Pádua e a Santo André Avelino, os outros dois que devem corresponder-lhes; o que tudo se faz sendo presentes o Capitão de Dragões da Capitania de Goyas José de Mello e Castro de Vilhena; referido Engenheiro Domingos Samboceti; o Tenente de dragões Joséph Manoel Cardoso da Cunha; o Tenente em Segundo de Artilharia Thomé José de Azevedo; o Alferes de Dragões Joaquim Pereyra de Albuquerque; o Capitão Joaquim Lopes Poupino, Intendente das obras, de que se fez Auto com mais quatro copias em que o dito Senhor Governador e Capitão General assignou, e da mesma forma os sobreditos, com as Pessoas que abaixo constam ;e eu Antônio Ferreira Coelho, Escrivão da Fazenda Real que o escrevy - Luiz de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres."

Foi assim a Ata da Fundação do Real Forte do Príncipe da Beira. São hoje decorridos duzentos anos dessa data histórica e a velha Fortaleza se mantém de pé, como se fosse um desafio lançado pelos nossos antepassados para que possamos defendê-la e preservá-la com a mesma audácia e determinação que conseguiram conquistá-la e mantê-la.

Os termos em que a missão foi dada fazem-nos meditar sobre a elevada compreensão que aqueles homens tinham do cumprimento do dever. A distância em que se encontraram do centro de decisão e as enormes dificuldades a sarem enfrentadas durante os trabalhos não podiam constituir motivos para quaisquer desfalecimentos ou não cumprimento das ordens reais.

A missão teria que ser cumprida a qualquer custo.

Foram tiradas quatro cópias do Termo de Fundação e a mesa onde foi lavrado e assinado encontra-se em Vila Bela, antiga Capital da Província de Mato Grosso, pertencendo à Câmara Municipal. Segundo consta, apoiada numa portaria do Governador do Estado, a Câmara não admitirá a saída dessa histórica mesa para qualquer lugar fora do Estado de Mato Grosso, impedindo assim, que passe a fazer parte do acervo da velha Fortaleza.

0 Forte teve sua construção concluída em agosto de 1783, sendo o seu primeiro comandante o Capitão de Dragões José de Mello da Silva e Vilhena, exilado em Mato Grosso, que o ocupou com a guarnição do Fortim Conceição.

Sobre a construção do Forte Príncipe da Beira surgem multas perguntas a quem o visita: Como foi possível construir há duzentos anos, naquelas paragens, tão portentoso empreendimento ? As pedras que compõem a Fortaleza foram trazidas de onde e por que meio, tendo em vista as dezenove cachoeiras entre Guajará Mirim e Porto Velho ? 0 Fosso existente no centro do pátio interno do Forte para que servia ? Rota de fuga ? Depósito de munição ? Há notícias sobre a guarnição do Forte durante o século XIX ? Porque foi abandonado logo após a Proclamação da República ?

Essa monumental obra se afigura muito mais audaciosa quando se pensa nas distâncias verdadeiramente continentais que separam aquele ponto da nossa fronteira ocidental, da única via de comunicação então existente, o Oceano Atlântico. Além dessa distância, outra séria dificuldade existia e existe até hoje para quem deseja atingir aquela área por via fluvial, são as corredeiras do Rio Madeira que impedem a navegação em um longo trecho de seu curso.

C - CURIOSIDADES SOBRE 0 FORTE

0 Real Forte Príncipe da Beira é um quadrado, de conformidade com o sistema Vaubam ou de praças, que utiliza principalmente a fortificação de bastiões, de 970 metros de perímetro, com muralhas de 10 metros de altura, quatro 'baluartes armados cada um delas com quatorze canhoneiras.

Em torno do Forte existia um longo e profundo fosso que permitia somente o ingresso através da ponte levadiça que conduzia à monumental e única porta, com cerca de 3 metros de altura, aberta na muralha norte.

Em seu interior existiam quatorze residências destinadas ao comandante e demais oficiais, além da capela, armazém e depósitos.

Segundo consta, a pedra necessária à obra vaio inicialmente de Belém, por via fluvial, através dos rios Amazonas e Madeira. Posteriormente, passou a vir de Albuquerque ou de Corumbá, em Mato Grosso, subindo o Rio Paraguai até o Jauru e daí, por terra até a margem do Guaporé em. uma distância de cerca de 1500 quil0metros.

A mão-de-obra especializada já era um problema sério naquela época. Pedreiros, carpinteiros e artífices diversos foram trazidos do Rio de Janeiro e de Belém. Mais de duzentos homens trabalharam nessa obra e dizem que um efetivo de mil escravos auxiliou a sua construção, cujo término somente ocorreu seis anos após, em agosto de 1783.0 engenheiro Domingos Samboceti, falecido durante os trabalhos, foi substituído pelo Capitão de Engenheiros Ricardo Franco de Almeida e Serra, que concluiu a obra, vindo mais tarde ase destacar como herói de Coimbra, onde resistiu vitoriosamente a investida espanhola comandada por Dom Lázaro de Ribeira, contra aquele ponto fronteiriço.

0 transporte da artilharia a ser instalada em Príncipe da Beira, segundo consta dos documentos existentes na Seção do Serviço de Patrim0nio do Comando Militar da Amaz0nia, se constituiu em trabalho verdadeiramente ciclópico. "Basta dizer-se que quatro dos seus canh5es, os de bronze, de calibre 24, somente foram enviados do Pará em 1825, através do Rio Tapajós, levando esse transporte cinco longos anos até o seu destino."

D -ABANDONO

Duzentos anos são passados. A velha Fortaleza continua de pé como um atestado de lutas, sacrifícios e um baluarte não só de integração do meio hostil, mas de garantia de um grande pedaço pátrio. Representa nesses decênios todos, uma verdadeira sentinela deste longínquo torrão brasileiro.

Não há registro em nossa história dos detalhes da ocupação do Forte após o seu primeiro comandante, havendo um vazio histórico de mais de um século. Segundo alguns moradores da Região o último comandante chamava-se Queiroz. Está registrado, entretanto, que em 1889, ano da Proclamação da República, o velho Forte foi abandonado. Tiveram início, enfim, os saques e as depredações, tanto por brasileiros, como por bolivianos. Tudo que poderia ser aproveitado e carregado foi retirado pelos forasteiros que por ali passavam.

Segundo Manuel Esperidião da Costa Marques, ilustre engenheiro e político matogrossense do início deste século e que deve ter dado seu nome à Vila de Costa Marques, distante 26 quil0metros de Forte Príncipe da Beira, existem nas povoações bolívianas de Madalena, Baures e São Joaquim, telhas, tijolos e portadas das casas da Fortaleza, bem como imagens da sua capela na igreja desta última localidade

Os canhões espalharam-se e chegaram até a serem vendidos a navios ingleses em Antofogasta, no Pacífico.

A vegetação tomou conta de rodas as dependências e as paredes, em conseqüência, começaram a ruir.

E assim ficou totalmente abandonado, até que Rondon, em suas benéficas andanças por aquela região do Guaporé, redescobriu o velho Forte, totalmente engolfado pela selva, sendo necessário abrir um picadão para se chegar ao seu interior. Em 1930 nova expedição chegou ao Forte e constatou tristemente, que as selvas tomaram conta da velha Fortaleza.

Dois anos após a última interveniência desse ilustre Marechal, o Exército voltou a se fazer presente naquele local, através do Contingente especial de Fronteira do Forte Príncipe da beira que, em 1954 teve a sua designação mudada para 7º Pelotão de Fronteira e em 1977~ para 3º Pelotão Especial da Fronteira, subordinado ao 6º Batalhão Especial de Fronteira..

E, desde então, lá nós encontramos em novo aquartelamento, fazendo até mesmo o impossível para conservar com os poucos recursos financeiros, materiais e dificuldades de apoio logístico, o que sobrou do antigo e majestoso Forte.

0 Brasil está empenhado na integração da Amazônia e hoje vemos com entusiasmo regiões que eram um verdadeiro deserto florestal, transformarem-se em áreas habitadas e até desenvolvidas. Não é justo denegrir esta integração deixando a Fortaleza ao abandono no momento em que completa seu bicentenário. Este abandono físico e histórico constitui uma afronta àqueles que derramaram seu sangue para construí-la e defendê-Ia e para os que dedicaram anos de suas vidas, sem conforto, sem família e sem recursos, para conservá-la, unidos pelos mesmos ideais patrióticos dos antepassados.

Urge que restabeleçamos a nossa história e o primeiro passo seria a recuperação do Forte, e assim, ter(amos prestado uma digna homenagem ao passado e ao presente.

E - TOMBAMENTO

Em Notificação número 644, de 06 de julho de 1950 a Diretoria do Patrim0-nio Histórico e Artístico Nacional informou ao Ministério do Exército, para os fins estabelecidos no Decreto-Lei n.o 25, de 30 de novembro de 1937, que foi determinada a inscriçäo, no livro de Tombo das Belas Artes, do Forte do Pr(ncipe da Beira, Distrito de Príncipe da Beira, Município de Guajará Mirim, no Território Federal do Guaporé, atual Rondônia.

A notificação acima foi encaminhada ao Ministério do Exército através do Aviso n.o 591, de 10 de julho de 1950, do Ministério da Educação.

0 Comando Militar da Amaz0nia muito se tem empenhado no sentido de conseguir a recuperação do Forte através do Patrim0nio Histórico e Artístico Nacional ou, pelo menos, de obter recursos financeiros que permitam manter, em caráter permanente, uma equipe para limpeza da área da Fortaleza, a fim de evitar que a exuberante vegetação da região continue provocando danos às paredes, muralhas e pátios daquele monumento. 0 7.0 Pelotão de Príncipe da Beira, lá sediado, tem condições de proporcionar apoio, fiscalizar e controlar o trabalho dessa equipe.

F - RESUMO HISTORICO

1722 Francisco de Melo Palheta, partindo de Belém reconheceu o Madeira, Mamoré e Guaporé, indo até Santa Cruz de La Sierra.

1743 Criada a Missão de Santa Rosa (espanhola) pelo Jesuíta espanhol Atanazio Teodori.

1748 Portugal divide a Província de São Paulo e cria a de Mato Grosso, nomeado Rolim de Moura seu presidente.

1753 Rolim de Moura expulsa os espanhóis e cria a Guarda de Santa Rosa Velha - paliçada.

1760 Os espanhóis tomam Santa Rosa Velha. Rolim de Moura retorna e funda a dois quil0metros rio abaixo (Conceição), o Fortim Nossa Senhora da Conceição (Forte de Bragança, em 1769, depois de ampliado).

1765 João Câmara é nomeado Presidente da Província de Mato Grosso»

1771 0 Forte de Bragança é destruído por uma enchente do Rio Guaporé.

1776 20 de junho é lançada a pedra fundamental do Forte Pr(ncipe da Beira, no local da antiga Guarda de Santa Rosa Velha. Passa a ser utilizado por volta de 1783.

1889 0 Forte Príncipe da Beira é abandonado.

1914 0 Cap. Rondon encontra o Forte e constata seu abandono, danificação e depredação.

1930 É criado o contingente especial de fronteira de Forte Príncipe da Beira.

1937 É destacado para Príncipe da Beira o 4.0 Pelotão da 3a. Cia do 2º Batalhão de Fronteira;

1946 É extinto o 4º Pelotão da 3a. Companhia. 1954 Passa a denominar-se 7.0 Pelotão de Fronteira.

1959 Passa a ser Pelotão Independente.

1970 Passa a ser Pelotão destacado da 6a. Cia de Fronteira.

1973 Passa a ter semi-autonomia administrativa.

1977 Passa a ser 3º. Pelotão Especial de Fronteira, subordinado diretamente ao 6º. Batalhão Especial de Fronteira, perdendo a semi-autonomia administrativa. "'

 

II - UM POUCO DE ESTÓRIA

1 - Logo após a entrada, no pátio do Forte encontra-se uma antiga e úmida sala, de aspecto sombrio, janelas com grossas grades e argolas cravadas na parede. É a masmorra do Forte que deve ser rica em estórias através dos longos anos de sua existência. Uma delas está contida nos versos que foram escritos em suas paredes com um objeto perfurante, já um pouco ilegíveis, devido ao tempo e a queda da argamassa que cobriria a estrutura. Respeitando a ortografia ali escrita, conseguiu-se copiar o seguinte:

No dia 18 de Set. pelas 2 da tarde tremeo a terra 1852.

A Deus ingrata prizão

De ti me despesso obriozo Tendo suportado gostozo

Em ti a mais dura aflição

(ass Juvino)

 

Mais abaixo, estes versos:

Nesta triste e Horrorosa prisão

Vive o pobre e Enfeliz Pacheco

Com grossa e comprida corrente ao pescoço

 

Outros ainda:

"Mato Groço me prendeo

A Fortaleza me cativou

Preso e cativo estou

De quem tanto me favoreceo

Grande satisfação tavi

Quando em liberdade

Agradecer a boa vontade

Com que alguns senhores

Me fazem seus favores

Nesta minha advercidade

Neste desterro desgraçado

Em que a çorte me lançou

Muito agradecido estou

A tropa e povo honrado

Agradecido e obrigado

As esmolas que me tens feito

 

Capitão Cunha em meu peito

0 teu nome tenho gravado

E nele será, conservado

 

Cá ahonde do Brasil

0 reino pricipia

Prov(ncia de Mato Groço

Assim chamada

Nesta abobada imunda inabitada Noite e dia

Com graça e comprida

Corrente fria

Tem seu colar

Do pescoço pendurada

Com dois mantos

Escolhidos e emprestados

Pelos maiores

Qua na terra havia

Nesta úmida prisão ficou gravado o drama de prisioneiros; sabe-se que um deles chamava Pacheco, mas não se tem conhecimento do seu crime e da sua estória. Somente ali, no silêncio de sua cela procurou contar algo de si que o tempo destruiu.

2 - Conta-nos o ex-prefeito de Guajará-Mirim, Senhor Paulo Saldanha Sobrinho que navegou por mais de 40 anos no Rio Guaporé quando era funcionário do Serviço de Navegação do Guaporé, em 1937 trabalhava na Fazenda Conceição, de propriedade da Empresa Brasileira de Navegação nos rios Mamoré e Guaporé, um índio nhambiquara de nome Antonio Guaporé, muito caçador, tinha por missão suprir de gêneros (caça) o pessoal que trabalhava na Fazenda. Certo dia, Antonio saiu para caçar e perdeu-se na floresta do lado oriental do Forte, passando uns quatro dias desaparecido. No 4.o dia foi encontrado todo estropiado, trôpego e faminto, contando em seu linguajar mestiço que embrenhara-se na mata atrás de uma vara de queixadas e perdeu-se. Após o 3º dia subiu a serra e encontrou um igarapé e desceu-o tentando chegar ao rio maior. No 4º dia, não tendo encontrado o rio tomou outro rumo e logo adiante deparou-se com uma casa toda de pedras com janelas altas e em ferro grosso e uma única porta de ferro, fechada com enorme e estranho cadeado. Aproximou-se para olhar entre as guarnições de ferro mas não conseguiu devido à altura e por estar cheia de maribondos. Fez nova investida mas foi atacado novamente pelo enxame e desistiu. Mas tarde foi encontrado pelos companheiros e contou a sua estória. Voltou após 15 dias tentando encontrar a tal casa, procurando passar pelos mesmos lugares mas não obteve êxito.

 

3 - Esta outra estória narrada pelo mesmo Senhor Saldanha, foi ouvida de um velho chamado Inacinho, morador há muitos anos na região do rio Guaporé, acima da localidade de Ilha das Flores. Conta que foi soldado no Forte Príncipe da Beira na época em que saiu o último contingente no ano de 1895. Que nessa época o Forte possuía divisões. no subsolo onde existia a sala das armas, o Comando, Sargenteação, etc. Na parte superior ficaram as casas dos oficiais, a Igreja, o alojamento das praças, copa e cozinha. No centro do pátio havia um poço muito profundo, e à meia altura do poço duas entradas, com saletas para ventilação e também um Posto de Guarda. Que existiam duas saldas subterrâneas, uma em direção à serra, que se correspondia com a casa da pólvora e outra em direção ao rio. No caso de um ataque pelo rio, a saída dos fundos em direção à serra perfeita a fuga, sendo que pouco adiante existia uma bifurcação em forma de trincheira, onde se chegava a Lamego, frente a foz do rio Machupo, cerca de 40 minutos de barco do Forte.

Comparando-se as duas estórias, levando-se em conta que sejam verdadeiras, podemos supor que a casa de pedra encontrada pelo índio Antônio seja a casa de pólvora contada pelo ex-soldado do Forte. Entretanto, são passados duzentos anos e nunca se falou ou pelo menos se teve qualquer notícia da sua existência, não obstante ser a área vasculhada constantemente pela população da região, caçando ou trabalhando, inclusive os militares do Forte.

Conta ainda o Velho Inacinho que quando abandonaram o Forte, foi deixado sobre a mesa do Sargenteante um pequeno cachorro de Ouro que fora fundido em Vila Bela. Nessa oportunidade, perguntarem-lhe porque não levou consigo a tal peça quando abandonou o Forte, tendo respondido que de nada iria servir pois, a necessidade no momento era de v(veres porque a fome há muito imperava na velha Fortaleza, abandonada e esquecida desde 1889.

Ao escrevermos as últimas páginas deste Histórico, julgamos oportuno transcrever as palavras de Manoel Rodrigues Ferreira.

".. É preciso restaurar o Forte. Não é pelo fato de se encontrar perdido na imensidão do Rio Guaporé e da Amazônia, que deva continuar ignorado.

Somos hoje os continuadores da grandiosa obra dos nossos antepassados, de construir nesta parte da América uma grande Nação. E o Forte é uma parte daquele passado. Ele atesta a energia, a vontade de uma raça que é a nossa raça.

Do alto de um de seus baluartes, divisando aquela obra ciclópica lançada ali em pleno sertão do Rio Guaporé, somos levados a evocar aquele grande século 18, de cuja grandeza fala ainda tão eloqüentemente esta majestosa fortaleza."

 

III -DADOS SOBRE A LOCALIDADE DE PRÍNCIPE DA BEIRA

A - POSIÇÃ0

A localidade de Príncipe da Beira, sede do Forte do mesmo nome, está situada no Estado de Rondônia, Município de Costa Marques, à margem direita do Rio Guaporé, em frente ao território boliviano, distando da cidade de Guajará Mirim 375 km, por via fluvial.

A distância até Manaus, sede do Comando Militar da Amazônia, em linha reta, é de 1.145 km.

Suas coordenadas geográficas são:

12025'47'' de Latitude Sul e

21 017'20" de Longitude 0estedo Rio de Janeiro.

A altitude é de 220 metros.

B -CLIMA

Ameno e saudável, as vezes atingido por correntes frias provenientes do Sul.

C - POPULAÇA0

A população atual de Príncipe da Beira é de pouco mais de 1.000 habitantes

D - EDUCAÇA0

A Secretaria de Educação do Estado mantém na localidade uma escola da lª. a 8ªa. séries, com cerca de 150 alunos. 0 ensino da 5ª. a Bª. séries é noturno.

E - SANEAMENT0

A localidade possui rede de esgotos, água encanada (sem tratamento) e energia elétrica. Toda essa infraestrutura foi construída pelo Exército, com seus próprios recursos.

Em 1975 o Comando Militar da Amazônia, em ligação com a Comissão Especial da Faixa de Fronteiras, CEFF, que muito tem auxiliado a localidade, e com o Governo do ex- Território, conseguiu não somente a ampliação da rede elétrica, como a entrega às Centrais Elétricas de Rondônia - CERON, todas as atividades ligadas à geração e à distribuição de energia na localidade, inclusive, ao aquartelamento.

 

F - LIGACOES E COMUNICACOES

Guajará Mirim, distante 375 km por via fluvial, é o mais próximo centro de abastecimento da localidade.

A localidade possui uma pequena agência de correios e se liga a Guajará-Mirim e Costa Marques, por telefone, graças a eficiente e dinâmica atuação da TELERON ( Telecomunicações de Rondônia S. A.), que tem compreendido o enorme esforço desenvolvido pelo Comando Militar da Amazônia em beneficio da população civil daquele distante rincão da nossa fronteira.

 

G -SAÚDE

Inicialmente os recursos do Exército eram suficientes para o atendimento de militares e civis. Uma pequena enfermaria foi construída- 0 médico, o dentista, o farimacêutico e o veterinário lá estavam permanentemente. Poderia faltar o combatente, porém, o médico, jamais.

Todavia, a população foi aumentando. Inúmeras famílias chegaram e se estabeleceram na área, inclusive, vizinhos bolivianos.

Em conseqüência, houve necessidade de um reforço de meios, inclusive, de ampliação das instalações. 0 FUNRURAL e a LBA prontamente se fizeram presentes e muito têm auxiliado. A Central de Medicamentos constitui um Capítulo á parte. A pontualidade com que a sua vasta gama de produtos é entregue muito tem contribuído para o bem estar e a tranqüilidade daquele punhado de brasileiros.

 

Galeria dos ex-comandantes do Real Forte Príncipe da Beira

1783 Cap. De Dragões Josë de Mello Castro de Vilhena

1951 2º Ten QAO Zanely de Aguiar

1953 2º Ten QAO Oscar Acioly da Silva

1954 1º Ten QAO Audizio de Araújo

1955 1º Ten Inf Rubens da Serra Aranha

1956 Asp Of Inf Amilton Coelho de Lima

1958 1º Ten Inf Domingos Miguel Antônio Gazzineo

1959 2º Ten Inf Horácio Neves Neto

1961 1º Ten Inf Makoto Kaiano

1962 1º Ten Inf Clerion Dias Faro

1963 2º Ten Cav Carlos Pereira

1964 1º Ten Inf Ernani de Fragelli Figueredo

1966 1º Ten Cav Joari nascimento Barreto

1970 Cap Inf Fernando Lassance Machado Vieira

1973 Cap Inf Washington Lopes Viana

1976 Cap Inf Eduardo Carlos Albuquerque Dutra

1977 1º Ten Inf Luiz Fernando Lana de Paula

1978 1º Ten Inf José Soares da Rocha Filho

1981 1º Ten Inf Luiz Alberto Chaves

1981 1º Ten Inf Osmar Teodório de Oliveira

1982 2º Ten Inf R2 Amarílio Suiça dos Santos

 

Extraído do opúsculo reeditado pelo Governo do Estado de Rondônia quando da visita do Exmº Sr. Presidente da república Gen JOÃO BAPTISTA DE OLIVEIRA FIGUEIREDO, ao real Forte Príncipe da beira, em 08 de abril de 1983.